“O meu intuito era ter uma relação sexual com o Neymar”

08/06/201921/06/2019 Redação Postei blog, estupro, feminismo, machismo, mc carol, najila trindade, neymar, sexo

Depois de tantos dias estampando manchetes, o caso Neymar Jr não é mais uma “notícia”. Por isso aqui já é possível falar a respeito. Confesso que foi muito difícil tentar acompanhar tudo que aconteceu até agora. Mas o fato é que nenhum de nós, de fora daquele quarto de hotel francês, saberá exatamente o que houve. Contudo, diante de toda a mídia gerada pela “notícia”, uma coisa interessante ficou em evidência:

Não sabemos lidar com uma mulher que declara publicamente ter aceitado um convite, para Paris, simplesmente porque queria transar. Vendo a entrevista do Roberto Cabrini com a Najila Trindade recordei, dada suas devidas atuações, o recente vídeo da página Quebrando o Tabu onde a MC Carol diz:

O homem ele canta putaria tranquilamente, ele fala putaria tranquilamente, ele chega numa roda de amigos e ele fala num tom alto: ‘Porra, comi uma mulher ontem’ e etc etc

O jornalista do SBT insistia na pergunta sobre as intenções da moça em se deslocar, bancada pelo jogador, a Paris mesmo após ouvi-la repetidas vezes e de variadas formas afirmar que seu “intuito era ter uma relação sexual com ele (Neymar)”. #FIM

Nem o Cabrini, nem a maioria dos homens e mulheres, nem mesmo eu e você, estamos preparados para ouvir uma mulher dizer claramente, em alto e bom som que quer/quis/queria SO transar com um cara. Do famoso ao desconhecido, bancada com dinheiro alheio ou do seu próprio bolso, as mulheres ainda não estão autorizadas a dizer o que desejam!

Longe de toda essa treta do feminismo na rede social, panfletário ou não e ainda mais longe do machismo (de homens e mulheres) que colocam a – suposta – vítima como eminente culpada, preferimos lidar com algo mais construtivo socialmente que foi olhar para uma entrevista, como foi a do Cabrini, e notarmos o seu desconforto ao ficar cara a cara com uma mulher capaz de dizer em rede nacional que quis “dar” pro Neymar em Paris. Lendo aqui em voz alta isso nem parece tão absurdo assim como estão pintando…

Bem, ainda hoje recebemos e-mail da NR Sports – “detentora exclusiva dos direitos de exploração comercial da imagem, nome e marcas do Atleta Neymar Jr. desde 2006” – “esclarecendo” alguns tópicos veiculados pela imprensa a respeito de contratos firmados pelo jogador com grandes marcas.

A atenção aqui, além do “Atleta” com letra MAIÚSCULA, ficou para a parte do release que diz:

“Passados alguns dias da divulgação das acusações, todas as evidências divulgadas convergem para a inarredável conclusão de que o Atleta Neymar Jr. foi vítima de “Denunciação Caluniosa”, crime que está sendo apurado pelas Autoridades Policiais.”

O “inarredável” aí me parece muito pretensioso, mas a jornalista que assina o texto, pensa dessa forma e talvez este pensamento comungue com o de muitos brasileiros e brasileiras que veem na mulher que viaja para a Europa, com tudo pago, para transar com um dos mais famosos jogadores de futebol do mundo, uma prostituta.

Fiquei lembrando das inúmeras vezes que um amigo foi de ônibus para Feira de Santana com o mesmo “intuito” da Najila e ninguém nem ‘tchum’. A diferença era que ele mesmo bancava a passagem e a hospedagem num hotel barato próximo da rodoviária. Tudo para satisfazer seu desejo de transar com aquela pessoa, uma pessoa completamente desconhecida e sem grana, diga-se de passagem.

Poderíamos inclusive compartilhar isso aqui com vocês, com o mundo todo, dando riquezas de detalhes e o máximo que arrancaríamos seriam leves risadas. Não pela viagem ter sido divertida ou pela pessoa ser anônima e desconhecida, mas porque se trata de um homem e não uma mulher simplesmente dando vazão aos seus próprios desejos sexuais.

Acusações e versões à parte, a justiça tratará de dar seu veredito sobre o #CasoNeymar. Suponho que a moça terá a corda arrebentada do seu lado, por motivos óbvios. Por isso sugerimos que enquanto estivermos curtindo as cenas de cada capítulo dessa famigerada trama, seja pelos programas de TV e/ou Instagrans de fofoca, tratemos de questões mais produtivas em nossas próprias bolhas.

Fica a dica ao caro leitor: todo lixo midiático disponível por aí, mesmo que produzido a partir da cama de um quarto de hotel, pode ser reciclado.