Fantástico traz maturidade ao debate racial no caso Gio Ewbank, em Portugal
A matéria do Fantástico fez tudo que a audiência feroz da internet e seus “influenciadores/colunistas” não conseguiram: humanizaram e conscientizaram – com os devidos pingos nos is – a respeito da violência sofrida pelos filhos, Titi e Bless, do casal Gio Ewbank e Bruno Gagliasso, em Portugal.
Informações importantes sobre o caso são: o restaurante escolhido, segundo os pais, era exatamente por ser majoritariamente frequentado por pessoas pretas e a mulher racista teria aparecido lá já agredindo verbalmente as crianças que brincavam com filhos de uma família de angolanos no local.
Pelo relato do casal o que houve não foi algo corriqueiro, já que os mesmos já são clientes dali. Além disso, ao que parece, a reação de Giovanna foi imediata a queixa dos filhos e a ação de Bruno em chamar a polícia também.
É claro que, devido ao contexto brasileiro, tendemos a supor cenários onde “se aqueles pais fossem pretos”, como seria o desenrolar do caso a partir daí. Contudo, achei desumanizante, tal qual o ato racista, parte da turma virtual colocar apenas este cenário hipotético como pauta do dia. Inclusive negligenciando as crianças pretas envolvidas, como se ter seus pais brancos fosse algo maior do que o racismo em si.
Sim, vimos uma mãe branca reagir a uma mulher branca e racista. O fato é este e quais os desdobramentos disso socialmente, especialmente no Brasil? O Fantástico, através da sensibilidade de Maju Coutinho, nos trouxe uma resposta!
Durante alguns anos, mais precisamente a partir de 2019, se tem falado muito em antirracistas e o papel destes, com foco na branquitude, para o combate ao racismo estrutural. Sobretudo por muitos ataques, suposições e previsões do futuro, mais um bocado de branco famoso se declarando um “racista em desconstrução” na internet, não me recordo de episódio tão emblemático como o vivido por Giovanna e família.
Tivemos não apenas o relato, mas o fato e os vídeos de uma mãe branca de duas crianças pretas mostrando por A + B o que faz um antirracista em seu lugar privilegiado pela branquitude. Entretanto a internet, seu influencer preferido e muitos colunistas, optaram pelo revanchismo, advinhações, condenações, dedos em riste e muito blá blá blá caça likes!
Em pouco mais de 10 minutos o Show da Vida mostrou o fato, desenrolou o caso e avançou nas análises do cenário e seu contexto.
No mesmo grau que as redes sociais nos mostra toda sua ineficiência na abordagem de temas tão complexos e importantes, de certa forma, o jornalismo tradicional, o arroz com feijão da imprensa, colocou sensatez e deu um bom fôlego a um debate que virou ping-pong na boca – e dedos – de muita gente.
Alguns pontos, antes de concluir, precisam ser ditos: não se orgulhe apenas das falas da Giovanna e do Bruno sobre “privilégio branco” ou grite um “lugar de fala” na cara deles ou dos outros. Façamos o mínimo esforço de interpretar o caso, seus atores e o que, de alguma maneira, tanto esforço sobre o debate racial no Brasil implicou no ato antirracista que tanto se pregou e, ao menos agora, foi assistido.
O casal são só pais e exerceram aquilo que de mais humano se espera deles em relação aos seus filhos, mas houve ainda a exposição destas figuras públicas e a repercussão da notícia por meio disso.
Logo, espero que ao menos os colegas, pretos e brancos, mas sobretudo antirracistas, passem ao próximo nível do debate sobre racismo e também machismo, homofobia e outros temas que agridem diariamente parte da sociedade nesse país.
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